Contraponto: A Renascença
A Renascença, um período de esperimentação, trouxe vários acontecimentos importantes: o uso do efeito policoral, a ascensão da música instrumental, e o desenvolvimento dos madrigais e da ornamentação virtuosa (MERRIMAN, 1982, p. 9). Na metade do século XV, o Concílio de Trento, ignorando o desenvolvimento da música secular, aboliu o uso de qualquer artifício secular na igreja, o que havia resultado na incompreensão do texto. A música de Palestrina, devido ao seu caráter estritamente religioso e seu conservadorismo, tornou-se o modelo ideal para a Contra-Reforma, uma busca mística da relação homem-Deus. Simplicidade e compreensão do texto retomam seus lugares como os fatores mais importantes. Exemplos são encontrados nas missas e motetos do século XVI, formas permitidas na igreja. (CARVALHO, 2006, p. 45)

Giovanni Pierluigi Di Palestrina (ca. 1525-1594)
O músico italiano Giovanni Pierluigi Di Palestrina foi cantor, diretor musical e compositor. Aos 26 anos tornou-se diretor musical do coro da capela Juliana, na catedral de São Pedro, em Roma. Três anos mais tarde, atuou como cantor e compositor do coro pontifício, posição que perdeu em 1555, uma vez que o novo papa não permitia homens casados participarem dele. Com isso, Palestrina passou a dirigir o coro na igreja de São João Laterano, também em Roma. Em 1571, voltou a ocupar sua antiga posição na catedral de São Pedro, recebendo o título de meste de música da basílica do Vaticano. (CARVALHO, 2006, p. 45)

Músico conservador, Palestrina compôs quase que exclusivamente música sacra, em um príodo em que a música secular estava em voga. Em sua música permeava o controle da linha melódica e seu direcionamento, um ritmo equilibrado baseado no ritmo do cantochão, e uma predominância de graus conjuntos com poucos saltos (sendo estes compensados por movimento contrário). Havia uma preocupação com a transmissão do texto, e a terça estava presente na maioria das tríades. Seu estilo evita o cromatismo, intervalos aumentados e diminutos e, saltos dissonantes. Sua música flui livremente, de forma natural e equilibrada, sem contrastes abruptos, com o uso reservado de pontos altos e baixos, salientando a mensagem religiosa dos textos musicais. As vozes têm praticamente a mesma importância, sem que uma domine a outra. Sua melodia é baseada no cantochão, iniciando-se em geral com notas longas, aumentando gradativamente sua atividade rítmica e diminuindo-a novamente, ao atingir uma cadência. Os pontos melódicos culminantes não são enfatizados com repetições, e existe um equilíbrio entre os movimentos escendente e descendente. (CARVALHO, 2006, p. 45)

Palestrina foi o músico da Contrarreforma, destinado a combater não somente o protestantismo, como a própria música da Igreja católica, cada vez mais dada a excessos motivados pelo domínio técnico apurado e pelo enorme prazer de invenção que os compositores experimentavam em compor virtuosisticamente. O estilo de Palestrina buscava a pureza estilística, o rigor nas regras, o equilíbrio. Tratava-se de uma crítica às estrondosas composições renascentistas cada vez mais elaboradas. Seguindo os preceitos da Contrarreforma, tinha que ser equilibrado e sóbrio, valendo-se de regras estritas, como reflexo da postura que deveria caracterizar os fiéis, dentro de cânones e dogmas determinados pela Igreja. (CURY, 2007, p. 29)

Orlando Di Lassus (1532-1594)
Juntamente com Palestrina, Orlando Di Lassus é considerado um dos maiores compositores de música sacra do final do século XVI. Palestrina era mais reconhecido por suas missas, enquanto Lassus por seus motetos. Lassus entrou para o serviço da corte do Duque Albrecht V da Bavária em 1556 ou 1557 (GROUT, 1980, p. 241) onde se tornou mestre da capela ducal em 1560. Manteve este posto até sua morte. Lassus também é reconhecido pelos gêneros chanson, madrigal e o Lied. Aos 24 anos já havia publicado livros de suas peças, que mais tarde superaram 2000 obras. (CARVALHO, 2006, p. 46)

"Lassus também é renomado por ser considerado uma das figuras mais cosmopolitas da história da música, englobando traços de contraponto flamengo, harmonia italiana, opulência veneziana, vivacidade francesa e austeridade alemã (GROUT, 1980, p. 273)." (CARVALHO, 2006, p. 46).

A música do século XVI era essencialmente vocal, refletindo a extensão e as tendências naturais da voz humana. O coro desta época era composto exclusivamente de vozes masculinas, meninos e homens adultos, em geral de vinte a trinta componentes. Sua função era fornecer música para os serviços litúrgicos. Cada voz era escrita em livros separados, não alinhadas verticalmente na mesma página, como hoje. Vários cantores de uma mesma tessitura vocal compartilhavam a mesma partitura, sem acesso às outras vozes. O uso de instrumentos era raro, e apenas dobravam uma das vozes. A música polifônica da época utilizava os tons representados na mão de “Guido”, equivalente à extensão mediana das teclas brancas do teclado moderno (TRYTHALL, 1994, p. xii). (CARVALHO, 2006, p. 46)

REFERÊNCIAS
CARVALHO, Any Raquel. Contraponto Modal a duas vozes: as cinco espécies. In: ______.Contraponto Modal: manual prático. 2ª ed. Porto Alegre : Evangraf, 2006. 133 p.

CURY, Vera Helena Masshu. Contraponto: o ensino e o aprendizado no curso superior de música. São Paulo : UNESP, 2007. 156 p.
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