O Sistema Musical dos Gregos / Ficha de citação 2 (CANDÉ, 2001)
Conhecemos bem o sistema dos gregos pelos escritos dos filósofos e teóricos, que se estendem por cerca de seis séculos, de Platão até os séculos II e III de nossa era, sem falar das numerosas exegeses posteriores, em particular as dos grandes teóricos árabes. (p.87)

O fundamento do sistema, segundo Aristóxeno de Tarento, é uma escala contínua de uma oitava dupla, formada de quatro "tetracordes" encadeados, com uma "disjunção" central. É uma espécie de tabela universal, que permite formar todas as escalas em uso na música grega. O conjunto é chamado "Grande Sistema Perfeito - GPS". O som que limita a disjunção no grave é chamado mese ou som central: é o eixo de todo sistema, qualquer que seja a harmonia utilizada... (p.87)
Grande Sistema Perfeito - GPS



Logo abaixo temos algumas observações sobre o grande sistema perfeito:

1. Os "tetracordes" são células características de quatro notas, que correspondem às quatro cordas da lira antiga; todos eles apresentam a mesma sucessão de intervalos. São os elementos básicos do sistema. (p.87)

2. Os sons que limitam os tetracordes, representados em notas brancas, são fixos; os outros são móveis. Na oitava central (mi-mi), característica da harmonia nacional dória ou doristi, a quarta e a quinta são fixas. Esses dois sons (mese e paramese) são ainda mais importantes por formarem respectivamente a média harmônica e a média aritmética da oitava central. (p.87)

3. A denominação dos diferentes graus era provavelmente inspirada na das cordas correspondentes da lira. Cada grau era designado por seu nome, associado ao de seu tetracorde: "trito das disjuntas, hípato das médias", etc. (p.87)

4. As escalas da música grega são apresentadas do agudo ao grave, “descendo”, ao contrário de nosso hábito. Há três motivos para isso: (p.87)

a) No doristi e em cada um dos tetracordes do GSP, a nota que chamamos de "sensível" está acima e não abaixo da final, criando uma atração para o grave. A inclinação geral da melodia antiga parece, de resto, descendente. (p.87)

b) As cordas da lira eram contadas do agudo ao grave. Ainda hoje, chama-se "4ª. Corda" de um violino ou de um violoncelo a corda mais grave. (p.88)

c) O sistema de notação sugere a ordem descendente. (p.88)

5. O tetracorde anexo das conjuntas (synemenon) se insere no lugar das disjuntas, mas com a disjunção no agudo. É a transposição do tetracorde das médias à quarta superior. Articulado sobre a mese, ele serve para as mutações, isto é, para as mudanças de harmonias (de modos) e de tons. (p.88)

6) A importância do Lá é significativa, porque se trata da nota central, ou mese, do GSP. Em Problemas, obra atribuída a Aristóteles (mas que poderão não ser inteiramente de sua autoria), afirma-se o seguinte: "Em toda a boa música o mese repete-se com frequência, e todos os bons compositores recorrem frequentemente ao mese, e, se o deixam, é para em breve voltarem a ele, como não o fazem com mais nenhuma nota". (GROUT, 1994, p. 28)


Três conceitos fundamentais podem-se definir em relação ao GSP de Aristóxeno: gêneros, harmonias e tons.

O tom ou tropo é análogo ao que chamamos de "tonalidade"...(p.88) "...com uma ideia de valor absoluto que exclui a equivalência das oitavas…" (p.92) "...e define-se pelo som com base no qual se estabelece um GSP. Ele determina a altura absoluta do sistema e permite manter a oitava modal das diferentes harmonias na textura prática das vozes." (p.88)

A harmonia é análoga ao que chamamos de "modo": é a escolha de uma oitava característica e de uma quinta modal na escala completa. As harmonias são definidas por sua final (base da oitava) e por sua tônica ou fundamental (base da quinta modal). Como a final e a tônica são confundidas em nosso sistema atual (sob a denominação de "tônica"), é com o nome de final que temos o costume de designar os modos, ou, antes, sua oitava característica ("modo de mi, modo de ré..."). num mesmo tom, a estrutura do GSP permanece imóvel, qualquer que seja a escolha da harmonia: a oitava e a quinta características das diferentes escalas se deslocam ao longo da escala fundamental do sistema, e a harmonia se defina em relação a esse contexto fixo. (p. 88)



...A armonia é, ao mesmo tempo, modus (maneira de ser e de fazer) e species (aspecto da oitava). A harmonia é o acorde da lira; originalmente, não era uma abstração… (p. 90)

REFERÊNCIAS
CANDÉ, Roland de. História universal da música. Tradução: Eduardo Brandão. 2ª ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2001. Vol 1 - 640 p., Vol 2 - 512 p.

GROUT, Donald J. ; PALISCA, Claude V. História da Música Ocidental. Tradução: Ana Luísa Faria. 1ª ed. Lisboa: Gradiva, 1994. 778 p.

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