O Sistema Musical Grego (GROUT, 1994)
A teoria musical grega, ou harmonia, compunha-se tradicionalmente, de sete tópicos: notas, intervalos, gêneros, sistema de escalas, tons, modulação e composição melódica. Estes pontos são enumerados por esta ordem por Cleónides (autor de data incerta, talvez do século II d.C.) num compêndio da teoria aristoxeniana; o próprio Aristóxeno, nos seus Elementos de Harmonia (c. 330 a.C.), discute demoradamente cada um dos tópicos, mas ordenando-os de forma diferente. Os conceitos de nota e intervalo dependem de uma distinção entre dois tipos de movimento da voz humana: o contínuo, em que a voz muda de altura num deslizar constante, ascendente ou descendente, sem se fixar numa nota, e o diastemático, em que as notas são mantidas, tornando perceptíveis as distâncias nítidas entre elas, denominadas "intervalos". Os intervalos, como os tons, os meios-tons e os dítonos (terceiras), combinavam-se em sistemas ou escalas. O bloco fundamental a partir do qual se construíam as escalas de uma ou duas oitavas era o tetracorde, formado por quatro notas, abarcando um diatessarão, ou intervalo de quarta. A quarta foi um dos três intervalos primários precocemente reconhecido como consonâncias. Diz-nos a lenda que Pitágoras descobriu as consonâncias a partir de quocientes simples, ao dividir uma corda vibrante em partes iguais. Na razão de 2:1 terá encontrado a oitava, na de 3:2 a quinta e na de 4:3 a quarta. (p. 22)

Aristóxeno ou Aristoxenus: Teórico grego, aluno de Aristóteles. São-lhe atribuídas 453 obras, sobre teoria política e da educação, doutrina pitagórica, biografia, miscelâneas e anotações, mas sua fama foi como teórico musical. Partes de três livros sobre os sons harmônicos, ou a teoria das escalas, sobreviveram como Elementos harmônicos; da mesma forma parte de um tratado sobre Elementos do ritmo. Ele reduziu os fenômenos da música grega a um sistema coerente, ordenado, particularmente em sua doutrina sobre o ritmo. (SADIE, 1994, Aristoxenus)

Havia três gêneros ou tipos de tetracordes:

Diatônico - Os dois intervalos superiores eram tons inteiros e o inferior um meio-tom. (p. 23)

Cromático - O intervalo superior era um semidítono (terceira menor), e os dois intervalos inferiores, formando uma zona densa, ou pyknon (espesso ou concentrado), eram meios-tons. (p. 23)

Enarmônico - O intervalo superior era um dítono (terceira maior), e os dois intervalos inferiores do pyknon eram menores do que meios-tons, quartos de tons, ou próximos do quarto de tom. (p. 23)



Observações:

a) Todos estes componentes do tetracorde podiam variar ligeiramente de amplitude, e esta variedade criava "matizes" dentro de cada gênero.

b) Segundo certos autores gregos, o enarmônico seria o gênero mais antigo; outros, porém, condenam-no como uma prática decadente (Aristóxeno).

c) Aristóxeno defendia que o verdadeiro método para determinar os intervalos era através do ouvido, e não de quocientes numéricos, como pensavam os seguidores de Pitágoras.


Os três gêneros são apresentados aqui sob a forma tradicional, dita "vulgar", que era adotada pelos diletantes e pelos filósofos. Os músicos profissionais praticavam outras formas, tornando espinhosas as definições. Foi por isso que inventaram um método bastante artificial, a "catapicnose", que dividia virtualmente a oitava em 24 dieses iguais, permitindo avaliar os intervalos em números inteiros de dieses ou quartos de tom. Aristóxeno tornou-se o teórico dessa curiosa tentativa de temperamento. Mas os pitagóricos sempre se esforçaram por calcular logicamente as frações características (relações dos comprimentos correspondentes das cordas).

Essa sutil variedade de intervalos era obtida no aulo tapando-se parcialmente os furos. Na lira e na cítara, podia-se mudar o acorde ou exercer uma pressão do plectro entre o cepo e o cavalete (o que mostra uma ânfora bem conhecida dos historiadores).

Tetracordes conjuntos e disjuntos

Dois tetracordes podiam combinar-se de duas formas diferentes para formarem heptacordes (sistema de sete notas) e sistemas de uma ou duas oitavas. Se a última nota de um tetracorde era também a primeira de outro, os tetracordes dizia-se conjunto; se eram separados por um tom inteiro, eram disjunto. Daqui derivou, com o passar do tempo, o sistema perfeito completo – uma escala de duas oitavas composta de tetracordes alternadamente conjuntos e disjuntos. O Lá mais grave deste sistema, uma vez que ficava de fora do sistema de tetracordes, era considerado um tom suplementar (proslambanomenos).



REFERÊNCIAS
GROUT, Donald J. ; PALISCA, Claude V. História da Música Ocidental. Tradução: Ana Luísa Faria. 1ª ed. Lisboa: Gradiva, 1994. 778 p.

SADIE, S. Dicionário Grove de Música. Tradução de Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro : Zahar, 1994. 1060 p.

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